Quando chega o inverno, minha primeira escolha na social é sempre o vinho! Em um bate papo descontraído, um jantarzinho mais íntimo ou mesmo numa bela sessão de cinema em casa, o vinho me encanta com seus aromas, sabores e incríveis benefícios à saúde.
E sabe porque devemos optar pelos naturebas: orgânicos, sustentáveis ou biodinâmicos? Porque são livres, sinceros, autênticos, puros e vivos!
Estamos em uma era de valorização do orgânico, do farm to table, de uma busca de conexão com os alimentos e com a terra, um resgate aos cultivos mais saudáveis e mais humanos.

É inegável que a sustentabilidade hoje é o foco principal das novas gerações; alimentos e vinho também. Muita gente {e isso vai aumentar cada vez mais, pois estamos no “boom” da moda natureba} investe nesse tipo de mercado como marketing. Mas felizmente a maioria ainda o faz por realmente acreditar que é uma maneira melhor de cuidar e curar o mundo, ter mais qualidade de vida; além de, claro, produtos saudáveis, saborosos e interessantes. E porque não os vinhos? Grande parte dos produtores de uvas e de vinhos orgânicos, sustentáveis ou biodinâmicos também procura, através desses tipos de cultivo e vinificação, uma expressão de sabor e aromas melhores e mais autênticos.
A maioria dos produtores já está preocupada em minimizar as aplicações químicas nos vinhedos e em ter um ou outro rótulo natureba. Inúmeros eventos, feiras e degustações começam a ganhar notoriedade. Importadoras de vinhos estão abrindo mais espaço em seus portfólios, restaurantes idem. Eles estão nas melhores festas, nas cartas dos sommeliers mais descolados e nas críticas de revistas especializadas. Mesmo no Brasil, já existe uma demanda desses rótulos, e o público consumidor está cada vez mais informado. Ainda é um mercado muito menor em relação aos vinhos convencionais, mas principalmente na Europa, o crescimento é exponencial e promissor.

Conheça um pouco mais sobre os vinhos naturebas…

Orgânicos

Vamos começar do começo: o que é um sistema de produção orgânico? Bem, até o advento da agricultura industrial, baseada em adubos químicos e pesticidas, todo agricultor era “orgânico”, no sentido primário {sem referência a certificações e selos, apenas ao cultivo livre de substâncias sintéticas} Ou seja, pensando friamente, o homem está produzindo de maneira orgânica há muito mais tempo que produzindo de maneira convencional; então a “moda” não é tão recente assim. Existe uma história muito maior da agricultura tradicional e orgânica do que da agricultura convencional. E essa é a base para todos os vinhos naturebas: um cultivo orgânico.

O grande erro, entretanto, é achar que o caminho é copiar o que se fazia há centenas de anos. Cultivar de maneira orgânica pode ser hoje também muito moderno; é utilizar os conhecimentos tradicionais e os recentes para desenvolver uma agricultura que garanta o equilíbrio com o meio ambiente.

Os vinhos orgânicos, entre os naturebas, são os mais fáceis de entender. Pelo conceito e também na questão do sabor: geralmente é mais “normal” dentro do mundo do vinho, o que assusta menos quem não está tão acostumado com os naturebas. Pois existem muitos dos naturebas que fogem totalmente ao padrão de sabor e aromas no mundo dos vinhos convencionais.

Basicamente, essa modalidade de vinho, precisa partir de um cultivo orgânico. Depois, na adega, o vinho deve seguir algumas regras de vinificação; segundo os critérios da vinificação orgânica.

E é preciso diferenciar o que é o cultivo e o que é a vinificação…

Uma agricultura orgânica vai prezar, além de práticas saudáveis nos vinhedos, pela manutenção da vida abaixo e acima do solo: insetos, pássaros, abelhas, vida microbiana, etc. Pois quanto mais biodiversidade, mais equilibrado o ambiente, e menos intervenção haverá no cultivo.

Até 2012 não existia uma legislação em torno da vinificação orgânica, o que significa que os vinhedos poderiam ser orgânicos e depois, a vinificação, poderia ser à maneira convencional. Isso gerou sempre muita discussão e muito ataque aos vinhos orgânicos, principalmente da vertente mais radical dentre os naturebas. E com razão, pois o vinho certificado de agricultura orgânica poderia ser “maltratado” na adega com uma vinificação convencional.
A controvérsia sobre alguns vinhos chamados orgânicos não é tanto sobre a questão agrícola, mas sim, sobre a vinificação. Na adega, os vinhos orgânicos são extremamente permissivos na manipulação, como utilização de insumos enológicos e práticas tecnológicas diversas. Uso de leveduras selecionadas, taninos e correções dos mais variados tipos são recorrentes.

Os insumos enológicos podem ser utilizados, desde que estejam dentro das regras permitidas para vinhos orgânicos. A sulfitagem, por exemplo, é controlada, e cada país tem um limite de sulfitagem para ser considerado orgânico. Geralmente fica entre 100 a 150mg/L. O cobre, também gera discussão, pois embora seja um produto “natural” e permitido pelas práticas orgânicas, em excesso é bastante prejudicial ao solo. E o permitido pela certificação é alto, ou seja, vai depender do bom senso e da real necessidade de cada um para a aplicação, pois dentro da legislação, é permitido. Muitas práticas enológicas proibidas e liberadas pelo selo orgânico são controversas e às vezes consideradas arbitrárias. As leis europeias são diferentes das leis americanas e das brasileiras para vinhos orgânicos, e em alguns países nem existe uma legislação muito clara em relação à isso.

Então, cada produtor vai avaliar o grau de manipulação, modificação e/ou correção a que vai submeter seu vinho, e até onde ele quer um vinho mais original ou mais comercial.

Ou seja, embora a uva seja de qualidade e saudável, o certificado orgânico geralmente permite que haja um grau bastante alto de manipulação desse mosto até virar vinho, correções e “maquiagens”; geralmente em prol de um gosto palatável para os termos do mercado – e é por isso que o vinho orgânico pode ser bem mais próximo, principalmente em termos de sabor e aroma, aos convencionais. Obviamente que não todos, mas uma boa porcentagem dos orgânicos são feitos, na adega, para obtenção de um produto comercial e vendável. Por isso, o alto grau de intervenções na vinificação, mesmo com insumos orgânicos. Aliás, esse é um termo bastante utilizado; são vinhos “feitos”.

Entendendo que não é todo produtor convencional que usa todos os produtos, insumos e técnicas enológicas permitidas pela lei, o grau de manipulação do vinho acaba sendo bastante parecido quando comparamos a média dos vinhos orgânicos e a média dos convencionais: utilização de leveduras selecionadas para fermentação alcoólica, insumos de nutrição para essas leveduras, enzimas diversas, filtrações, clarificação, acidificação, desacidificação, estabilização, adição de conservantes, adição de taninos, adição de bactérias lácteas para indução de fermentação malo lática, etc.

O grande problema é que quando entramos no maravilhoso mundo dos certificados, há sempre muito  interesse e dinheiro envolvido. Com a moda crescente dos produtos orgânicos, as prateleiras dos supermercados se enchem cada vez mais com produtos “verdes”, mas que são, na maioria das vezes, produtos orgânicos industrializados e longe do que seria realmente natural. E obviamente que a indústria do mundo natureba se utiliza da falta de informação dos consumidores para obter vantagens. Hoje em dia é de bom tom consumir orgânicos e falar sobre sustentabilidade. Mas é preciso tomar cuidado com a banalização do conceito. Em relação aos vinhos, idem.

Sem entrar no mérito bom ou mal, dentro do mundo dos vinhos orgânicos temos os vinhos orgânicos industriais, feitos em larga escala, e os artesanais, feitos em pequena escala. Da mesma maneira que temos vinícolas orgânicas que fazem isso por demanda do mercado e vinícolas orgânicas que fazem isso por convicção. Na prática, reina o bom senso de cada produtor.

O assunto é tão controverso que muitos vinhateiros orgânicos, biodinâmicos e sustentáveis se recusam a pertencer a uma única classe de selos, preferindo manter apenas suas próprias convicções e seu próprio comprometimento com a natureza e com seu vinho.

São escalas de produção tão diferentes, e que impactam tanto o produto e o ambiente à sua volta, que muitos dos viticultores mais radicais defendem que é mais sustentável um produtor que não seja orgânico, mas que seja um pequeno produtor artesanal, do que um produtor orgânico industrial, que faça vinhos em larga escala. Sempre bom lembrar que existem excelentes pequenos produtores, conscientes, com amplo respeito à natureza e à saúde e que não se enquadram em nenhuma categoria, pois não são certificados.

Sustentáveis

São vinhos provenientes de agricultura sustentável… um tipo de agricultura na qual procura-se evitar ao máximo o uso de produtos sintéticos/ químicos; utilizando somente quando necessário e procurando manter o ambiente equilibrado, prezando pela sustentabilidade como um todo: energia, água, emissão de carbono, bem estar do meio ambiente e bem estar social. Afinal, sustentabilidade não é só aplicar ou não agrotóxico. É um conceito muito mais amplo, que inclusive, transcende os selos. A sustentabilidade, no sentido primário, é o que todos os produtores orgânicos, biodinâmicos e naturais procuram.

Como é uma abordagem ampla e sem radicalismos, o conceito da agricultura sustentável {durable, raisonnée, integrada} ainda é muito discutida. Mas fato é que, essa prática, constituí um dos únicos meios de se fazer uma agricultura moderna, sem extremismos e ainda assim cuidando do planeta. Para os orgânicos e biodinâmicos, os sustentáveis são muitas vezes identificados como “convencionais disfarçados” por ainda permitir um mínimo de substâncias químicas, frente a necessidade. Cada um com suas filosofias, o importante é que existem cada vez mais iniciativas sustentáveis como um todo. O vinho é uma delas, mas engloba muito mais do que aplicações de pesticidas e fertilizantes químicos. A garrafa, o rótulo, a rolha, o transporte, a emissão de carbono, o lixo, a conservação de energia e dos recursos naturais, etc. Sem contar a parte social: a reintegração dos pequenos produtores no sistema comercial, a sanidade e bem estar dos trabalhadores, a manutenção da pequena cadeia entre o alimento e o consumidor. É muito assunto dentro de um tema só!

 
Biodinâmicos

Os biodinâmicos são produzidos de acordo com os princípios desenvolvidos pelo cientista e filósofo Rudolf Steiner, criador da biodinâmica. Esta é uma filosofia em que a biodiversidade ao redor da vinícola é completamente respeitada e que precisa estar sempre em equilíbrio. Para tanto, é necessário utilizar métodos agrícolas naturais, considerando até mesmo os ciclos lunares e energias da natureza.

Na produção de um vinho biodinâmico, o cultivo das castas de uvas não envolve fertilizantes ou compostos sintéticos, mas sim produtos orgânicos para equilibrar o solo e as videiras. Os produtores também fazem uso de outros métodos, como chás para equilibrar carências minerais de solos, plantações de rosas entre as videiras para o controle de pragas, além de realizar a colheita das uvas e o engarrafamento do vinho de acordo com as fases da lua.

Por seguir todo esse ciclo, a agricultura biodinâmica é responsável pela produção dos vinhos mais intensos, saudáveis e saborosos do mundo. A eliminação de produtos sintéticos no cultivo das uvas também resulta em bebidas com sabores e aromas mais acentuados. Assim, o vinho biodinâmico pode ser considerado a expressão máxima de um terroir, já que a interferência do homem é mínima.

 

Então, agora que já conhece um pouco sobre cada um dos tipos de vinho natureba, deixe pra lá os convencionais com sua falta de autenticidade… não perca tempo degustando vinhos standarizados, todos iguais, puramente tecnológicos!

Os vinhos orgânicos, sustentáveis e biodinâmicos podem até ter mais defeitos que os industriais, mas são vivos e conseguem compensar suas “impurezas” buscando o próprio equilíbrio! E sim, é indiscutível que o mundo ficou bem mais divertido com a chegada dos naturebas. Deixamos de tomar apenas as três ou quarto castas da moda e passamos a descobrir milhares de uvas típicas de suas regiões.

Aposte nos naturebas e encante-se com esse mundo!

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